15/11/2017

MOVA SE! um curta de vida longa

Alguém viu Rael aí???

Crônicas



FALTAM: 18 DIAS E 19 PÁGINAS PARA CONCLUSÃO





Pra você que acompanha as nossas cronicas aí tá mais uma delas com Gosto de pão de queijo!
Conversando recentemente com Rayane Silva, uma fã e amiga de Pernambuco que mora em Uberlandia-MG, entramos em detalhes sobre meus 11 anos de residência em Belo Horizonte. ( inclusive minha esposa é natural de Contagem grande BH), estávamos falando como somos “mangados” por conta do nosso sotaque nordestino. Aliás isso não se dá apenas em Belo Horizonte ou Uberlandia, é um mal geral do brasileiro taxar a regionalidade no falar como erros de gramatica .
Pois bem, em São Paulo certa vez riram muito de mim com minha fala arrastada de nordestino. Fazer o quê? é normal. Cada um com sua identidade, há quem diga que se por exemplo você perguntar um mineiro o que é “UAI”, a resposta está na ponta da Lingua: - Uai é uai uai!” 
Segundo tenho conhecimento; a palavra “ uai”, conhecida por fazer parte do modo de falar de mineiros e goianos, é usada para expressar espanto, surpresa ou impaciência. 
Na verdade, dependendo do jeito que for usada, pode acabar tendo vários significados. Embora não se conheça sua origem com exatidão, existem duas teorias nesse sentido.
A primeira delas é proveniente dos tempos da Inconfidência Mineira. 
Para se protegerem da polícia imperial, os inconfidentes usavam uma espécie de senha para garantir que o indivíduo que fosse entrar em suas reuniões era confiável: este deveria bater três vezes na porta da casa e dizer a palavra “uai”, iniciais de União, Amor e Independência. 
A partir daí, acredita-se que o termo tenha sido incorporado ao vocabulário da população local.

A segunda hipótese data de 1824, época em que a primeira empresa britânica se instalou em Minas Gerais. A Imperial Brazilian Mining Association permaneceu quase três décadas atuando na exploração de ouro e, desta forma, propagando a língua e os costumes da terra da rainha.
Assim, a expressão “uai” seria uma versão nacional da palavra why (“por quê?”, em inglês), que possui uma fonética idêntica e um sentido bastante semelhante.
Eu como morei onze anos nas terras mineiras,tenho três filhos que ainda moram em “BH”, convivo diariamente com o sotaque mineiro e tenho presenciado fatos que já passaram a fazer parte do meu dia a dia. 
Como esse livro é recheado de histórias e estórias resolvi então acoplar mais uma para nosso deleite em conhecer esse Brasil de todos nós. Falei pra Rayane Silva que falaria um pouco sobre a terra do pão de queijo e outras delicias mais que muito amo; Minas Gerais

NOTA: Poucas pessoas conseguirão acompanhar a fonética, pois cuidei em escrever no mais perfeito mineirês que pude...
A Seguir...
Papo de Mineiro!
(Tem base um trem desse???)
Terça feira cinco e vinte da manhã, entro numa lanchonete na Bahia com a Goitacazes ( só quem é de ‘ Belzont’ vai entender) pra tomar uma média com ‘pandhi queijo’ coisa mineiramente mineira e comum por aqui.
Aliás pão de queijo é comida aceitável em qualquer refeição sem restrições de dieta aqui em ‘Belzont’.
- Bão!? - Fala comigo uma atendente num caloroso bom dia “mineirês”
-Me ver uma média com dois pães de queijo...
-Ispera um cadin que já te trago procê... (se eu fosse encher a barriga de pleonasmos já me daria por satisfeito)

-Ô Zé! ( é que dizem que todo mineiro é chamado de zé até que se identifique como: Tião ) ...O trem tá fei moço!..
Não teve como não ouvir a conversa de dois clientes da mesinha ao lado.
- Ó, te contar procê, dêusde ‘ontchi’ que eu tô bolado cá Ludhimila...
-Uai, a Ludhimila fia do Divino? que mora no beco que dá pra o postim da pracin’a? ( eles fazem questão de colocar elementos no meio da conversar acho que é pra ‘baraiá us papo’)
-eeela mêz! óiprocevê! quéla muié quáiz num fala cumigo moço! ‘Ontchi’ bem ‘cedin’ eu cheguei no pond’ ôns, tavélalá...
- Uai mais ela nem trabáia sô!
- Procevê...
- Eu tava esperando meu ôns ; o 4021, ela tascou essa:
- Sádizer se esse ôns passavás?!?! (Rachei usbico!)
- Ô muié! Tô pur tua conta não uai! Cê deve tá min tchirânêu! Todo mundo sabe que o ôns da Savás, só se toma na Raul Suáis!? Num é mêz??
- Toooda vida. Concordou o amigo.
- Intão? Mêz’assim, ela entrou no ôns e sentou na cadeira ‘coladhinha’ cumigo. Quais que eu falei préla; Arréda pra lá sô! E ela quinén gádiscounfiádo inscorô na janelinha do ôns e nóis foi...
- Nossinhóra! ( disse outro amigo em tom de espanto)
- Quan saímu da Mazona e cruzemo a Raul Suáis, eu dhisse: “ - o próis pondiôns, Cê pódecer! O ôns quipás na Savás é no próis ponto!
- E ela desceu?
- Ispia um trem! Quem diz?! Ela toda arrumadinha, com uns vistidim passadim, us sapatim breádhi’rosa, se ajeitou na cadeira e falou: “ – Mudê dazidéia! Vou descer Na Fonso Pena!” - quáji dô um trem moço!
- Uai! E por que ?
- Uai! é que eu trabáio no parque municipal, desço toda vida Na Fonso Pena, conheço bem A Fonso Pena, e sei que lá no Pirulito, fica umas muié que tem esse custume de trabaiá cás parte. Pensei comigo; “ – aí tem coisa! ah si’tem!!!”
- Uai Sô! vai que nem é o que ocê tá pensano! Retrucou o amigo.
- Ispia procevê! Ela abriu a bolsa, pegou um ispeím, e começô breiar a boca com um batozim... pensei de novo: “ – aí tem coisa!!! ah si’tem!!!”

A essas alturas eles já tinha devorado uns oito pães de queijo e duas médias de café , a menina do balcão chegou lhe trazendo uma garrafa térmica e perguntou pra os dois: “- Pópôumpoquim mais?”
- Pópôumpoquim... respondeu um deles.
- Tá fresquim. Saiu ‘agurinha do fogo cabei dhipassá!
- Mas prestenção pra num intorná! Disse o outro controlando a mão da moça e guiando até a xicara.
Eles reabasteceram as xicaras e tomaram um belo gole cada um e continuaram o papo.

- Intão Zé, a Ludhimila desceu do ôns e eu desci também...
- E ela foi pra praça sete?
- Toda vida..
- Nur! 
- E eu atrais, pelas beráda da Fonso Pena...já quáis chegano na rodoviária, ela tirou uma blusdifrii da bolsa (e eu oianéla badaponti), juntô uns noiádo perto deu, eu fiquei cismado, ‘ ocê sabe que eu sou sistemático!!”
- Uai inté eu sou Sô!
- E a luddhimila deu de ir pra rodoviária...
- E ocê foi atráis?
- Toda vida ! e pensano “ – Aí tem coisa!!! ah si’tem!” 
Fui siguino dhi longe, ela entrou na rodoviária, foi naquelas barraquinha que se compra passáis de ôns, aí num guentei não Zé! Cheguei coladin nela e Falei: Luddhimila!
- Nussinhora! E ela?
- A muié ficou da cô dum lidileitche! Eu pensei dinovo: “ – aí tem coisa! ah si’tem!”
- Uia Zé, ( é que dizem que todo mineiro é chamado de zé até que se identifique como: Tião )- Ocê ta me siguineu?
- Magiiiina Luddhimila!!! Eu só tô preçando umas passáis pra Berába e ocê?
- Uai! To aqui pra comprar passáis pra minha tia ...
- A Dona Clotilde? Que é irmã do Divino, Casada com o Tião de Jigifora?
- Isso mez! 
- Ói procevê como são as côis! Eu quáis pensei mal docê! Me desculpa eu Ludhimila, eu pensei que ocê tava era, trabaiano diputa na praça sete? 
- Não Zé eu só vim comprar passáis pra minha tia mermo... e por falar em puta, como tem passado dona Margarida?
- Ah , a mamãe?? Mamãe Tá boa... só se queixano duns trem nuzósso, mas tá boa , coisa da idade....

Paguei meu café da manhã satisfeito e saí, afinal não é todo dia que se come um delicioso pão de queijo ( genuinamente mineiro) e se escuta uma conversa tão ajustada como essa.
Ê Trem Bão Sô!